Em Julho de 1922, a Liga das Nações concedeu à Grã-Bretanha o Mandato
sobre a Palestina (nome pelo qual o país era então conhecido).
Reconhecendo a ligação histórica do povo judeu com a Palestina, foi
solicitado à Grã-Bretanha que facilitasse o estabelecimento de um lar
nacional judaico na Palestina e em Eretz Israel (Terra de Israel). Dois
meses depois, em Setembro de 1922, o Concelho da Liga das Nações e a
Grã-Bretanha decidiram que as condições para a criação de um lar
nacional judaico não valeriam para a região leste do rio Jordão, que
constituía três quartos do território incluído no Mandato e que acabou
por se tornar o Reino Hachemita da Jordânia.
Imigração
Motivados pelo sionismo e incentivados pela empatia britânica com as
aspirações judaicas sionistas, conforme comunicado pelo secretário de
Relações Exteriores Lord Balfour (1917), sucessivos grupos de imigrantes
chegaram ao país, entre 1919 e 1939, cada um contribuindo para
diferentes aspectos do desenvolvimento da comunidade judaica. Cerca de
35.000 judeus chegaram entre 1919 e 1923, principalmente da Rússia, e
influenciaram muito o carácter e organização da comunidade durante anos.
Esses pioneiros estabeleceram os alicerces de uma infraestrutura
social e económica abrangente, desenvolveram a agricultura, instalaram
formas comunitárias cooperativas e únicas de comunidades rurais -
kibbutz e moshav - e forneceram a mão de obra para a construção de casas
e estradas.
A onda seguinte, com aproximadamente 60.000 judeus, que vieram
principalmente da Polónia entre 1924 e 1932, foi fundamental para o
desenvolvimento e enriquecimento da vida urbana. Esses imigrantes
estabeleceram-se principalmente em Tel-Aviv, Haifa e Jerusalém, onde
abriram pequenos negócios, empresas de construção e indústrias. A última
grande onda de imigração antes da II Guerra Mundial, que incluiu
aproximadamente 165 mil judeus, ocorreu na década de 1930, após a
ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. Os recém-chegados, muitos dos
quais eram profissionais e académicos, constituíram o primeiro grande
grupo de imigrantes da Europa Ocidental e Central. A sua educação,
habilidades e experiência aumentaram o padrão dos negócios, refinaram as
condições urbanas e rurais, e ampliaram a vida cultural da comunidade.
Administração
As autoridades britânicas concederam às comunidades judaica e árabe o
direito de administrarem os seus próprios assuntos internos. Utilizando
esse direito, a comunidade judaica, conhecida como Yishuv, elegeu (em
1920) um órgão autogovernante com base numa representação partidária,
que se reunia anualmente para analisar as suas atividades e eleger o
Conselho Nacional (Va'ad Leumi) para implantar as suas políticas e
programas. Financiados por recursos locais e fundos angariados pelo
judaísmo mundial, uma rede nacional de serviços educacionais,
religiosos, sociais e de saúde foi desenvolvida e mantida. Em 1922,
conforme estipulado no Mandato, uma "agência judaica" foi constituída
para representar o povo judeu diante das autoridades britânicas,
governos estrangeiros e organizações internacionais.
Sir Herbert Samuel, primeiro alto comissário britânico para a Palestina
Desenvolvimento económico
Durante as três décadas do Mandato, a agricultura foi desenvolvida;
fábricas foram estabelecidas; novas estradas foram construídas em todo o
país; as águas do rio Jordão foram represadas para a produção de
energia elétrica; e o potencial mineral do Mar Morto foi aproveitado.
A Histadrut (Federação Geral do Trabalho) foi fundada (1920) para
apoiar o bem-estar dos trabalhadores e criar empregos através do
estabelecimento de empresas cooperativas no setor industrial, assim como
serviços de marketing para as colónias agrícolas.
Piscinas de evaporação da fábrica Sdom Potash
(Serviço de Imprensa governo (S.I.G.)/Z.Kluger)
Cultura
Dia após dia, surgia uma vida cultural que se tornaria exclusiva para
a comunidade judaica na Terra de Israel. Arte, música, e dança se
desenvolveram gradualmente com a criação de escolas e estúdios
profissionais. Galerias e salas forneceram espaços para exposições e
espetáculos, frequentados por um público exigente. A abertura de uma
nova peça, o lançamento de um novo livro, ou uma exposição de
retrospectiva de um pintor local eram imediatamente cobertos pela
imprensa e tornaram-se objetos de animados debates em cafés e reuniões
sociais.
A língua hebraica foi reconhecida como língua oficial do país,
juntamente com o inglês e o árabe, e passou a ser usada em documentos,
moedas e selos, assim como em programas de rádio. O mercado editorial
aumentou, e o país surgiu como centro mundial de actividade literária em
hebraico. Teatros de vários géneros abriram as suas portas para o
público, juntamente com tentativas iniciais de escrever peças originais
em hebraico.
Oposição árabe e restrições britânicas
O renascimento nacional judaico e o empenho da comunidade para
reconstruir o país encontraram fortes oposições por parte dos
nacionalistas árabes. O seu ressentimento explodiu em períodos de
intensa violência (1920, 1921, 1929, 1936 a 1939), quando ataques não
provocados foram lançados contra a população judaica, incluindo o
Massacre de Hebron de 1929, o assédio no transporte judaico, e a queima
de campos e florestas.
Tentativas de diálogo com os árabes, realizadas no início do
movimento sionista, foram infrutíferas, polarizando o sionismo e o
nacionalismo árabe em uma situação potencialmente explosiva.
Reconhecendo os objetivos opostos dos dois movimentos nacionais, a
Grã-Bretanha recomendou (1937) a divisão do país em dois Estados, um
judeu e outro árabe, ligados por uma união econômica. A liderança
judaica aceitou a ideia da divisão e permitiu que a agência judaica
negociasse com o governo britânico para reformular os diversos aspectos
da proposta. Os árabes foram intransigentemente contra qualquer plano de
divisão.
A continuação de grandes ataques árabes antissemitas levou a
Grã-Bretanha (em Maio de 1939) à emissão de um Livro Branco, impondo
restrições drásticas sobre a imigração judaica, apesar de,
consequentemente, negar a judeus europeus um refúgio da perseguição
Nazi.
O início da II Guerra Mundial levou, pouco tempo depois, David
Ben-Gurion, posteriormente o primeiro Primeiro-Ministro de Israel, a
declarar: "Vamos lutar na guerra como se não houvesse Livro Branco, e
contra o Livro Branco como se não houvesse guerra".
Três movimentos clandestinos judeus ocorreram durante o
período do Mandato Britânico. O maior deles foi a Haganah, fundada em
1920 pela comunidade judaica como uma milícia de defesa para a segurança
da população judaica. A partir de meados dos anos 1930, o movimento
também foi responsável por retaliações após os ataques árabes e
respostas às restrições britânicas à imigração judaica com demonstrações
e sabotagem em massa. O Etzel, organizado em 1931, rejeitou o
auto-controlo da Haganah e iniciou acções independentes contra alvos
árabes e britânicos. O menor e mais militante dos grupos, o Lehi, foi
criado em 1940. As três organizações foram dissolvidas com o
estabelecimento das Forças de Defesa de Israel em Junho de 1948.
Membro de uma organização clandestina de defesa escondendo rifles (1947) (S.I.G./H.Pinn)
Holocausto
Durante a 2ª Guerra Mundial (1939 a 1945), o regime Nazi executou um
deliberado e sistemático plano para liquidar a Comunidade Judaica da
Europa. Nesse período, aproximadamente seis milhões de judeus, incluindo
um milhão e meio de crianças, foram assassinados. À medida que os
exércitos nazis varriam a Europa, os judeus eram perseguidos, submetidos
a tortura e humilhação, e levados para guetos, onde tentativas de
resistência armada causaram medidas ainda mais duras.
A partir dos guetos, eles eram transportados para campos de
concentração, onde alguns, com mais sorte, eram submetidos a trabalhos
forçados, mas a maioria era executada em massa através de tiros ou
câmaras de gás. Muitos não conseguiram escapar. Alguns fugiram para
outros países, uns juntaram-se aos guerrilheiros, e outros foram
escondidos por não judeus, que arriscaram as suas próprias vidas ao
fazerem isso.
Consequentemente, apenas um terço dos judeus sobreviveu, incluindo
aqueles que haviam deixado a Europa antes da guerra, de uma população de
quase nove milhões, que outrora constituía a maior e mais vibrante
comunidade judaica do mundo.
Após a guerra, a oposição árabe levou os britânicos a intensificarem
as suas restrições sobre o número de judeus com permissão para entrar e
estabelecer no país. A comunidade judaica reagiu, instituindo uma ampla
rede de imigração ilegal para resgatar sobreviventes do Holocausto.
Entre 1945 e 1948, aproximadamente 85.000 judeus foram trazidos
até Israel secretamente, por rotas muitas vezes perigosas, apesar do
bloqueio naval britânico e patrulhas de fronteira preparadas para
interceptar refugiados antes de chegarem ao país. Aqueles capturados
foram internados em campos de detenção na ilha de Chipre, ou forçados a
voltar para a Europa.
Distintivo amarelo que os judeus foram forçados a usar pelos nazistas
Voluntários judeus na 2ª Guerra Mundial: Mais de
26.000 homens e mulheres da comunidade judaica do mundo ofereceram-se
para se juntarem às forças britânicas na luta contra a Alemanha Nazi e
aos seus aliados do Eixo, servindo no exército, força aérea e marinha.
Em Setembro de 1944, após um esforço prolongado da agência judaica no
país e do movimento sionista no exterior para conseguir o reconhecimento
da participação dos judeus da Palestina no esforço de guerra, a Brigada
Judaica foi formada como uma unidade militar independente do exército
britânico, com a sua própria bandeira e emblema. Composta por
aproximadamente 5.000 homens, a brigada agiu no Egipto, no norte de
Itália e no noroeste da Europa.
Após a vitória dos Aliados na Europa (1945), muitos dos seus membros
juntaram-se às actividades de “imigração ilegal” para trazer
sobreviventes do Holocausto à Terra de Israel.
Recrutas judeus em um campo do exército britânico (S.I.G./Z.Kluger)
A caminho da independência
A incapacidade da Grã-Bretanha de conciliar as exigências opostas das
comunidades judaica e árabe levou o governo britânico a pedir que a
"Questão da Palestina" fosse inscrita na agenda da Assembleia Geral das
Nações Unidas (em abril de 1947). Como resultado, uma comissão especial
foi constituída para elaborar propostas sobre o futuro do país. Em 29 de
novembro de 1947, a Assembleia votou pela adoção da proposta do comitê
de divisão da Terra em dois Estados, um judeu e outro árabe. A
comunidade judaica aceitou o plano, mas os árabes o rejeitaram.
Ouça a votação da ONU
Comemoração espontânea em Tel Aviv, 29 de novembro de 1947 (S.I.G./H.Pinn)
Após a votação da ONU, os militantes Árabes locais, auxiliados por
voluntários aleatórias de países árabes, lançaram violentos ataques
contra a comunidade judaica, tentando frustrar a resolução da divisão e
impedir o estabelecimento de um Estado Judaico. Após uma série de
contratempos, as organizações de defesa judaicas expulsaram a maioria
das forças de ataque, tomando conta de toda a área alocada para o Estado
Judeu.
A 14 de Maio de 1948, quando o mandato britânico chegou ao fim, a
população judaica na Terra chegava a 650.000 pessoas, formando uma
comunidade organizada com instituições políticas, sociais e económicas
bem desenvolvidas - de facto, uma nação e Estado em todos os sentidos,
excepto no seu nome.
Plano de Divisão de 1947 (Resolução 181 da ONU) )