Entrevista Correio Manha

Embaixador Ehud Gol fala ao Correio da Manhã

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    ​"Ehud Gol, Embaixador de Israel em Lisboa, falou ao CM sobre o conflito com o Hamas em Gaza e sobre o risco de uma invasão militar terrestre daquele território palestiniano."
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    Correio da Manhã - Pensa que o conflito vai escalar e Israel vai ser forçado a invadir Gaza?
    Ehud Gol - Espero que não, mas enquanto o Hamas disparar rockets temos de nos defender, como faz qualquer outro país normal quando é atacado.
     
    - O atentado de quarta-feira, dia 21, em Telavive, configura uma escalada do conflito que pode precipitar a invasão de Gaza?
    - Esse atentado mostra como a situação está volátil.É um sinal vermelho que nos diz para usarmos todos os meios necessários para deter tentativas de atentado em Israel.  E não é só o Hamas em Gaza. Há outros grupos na Cisjordânia que estão a incitar a violência, e essa zona está, supostamente, sob o controlo de Abu Mazen. Mas ele não conseguiu controlar Gaza e não consegue controlar a Cisjordânia. Por isso, permitir, como ele deseja, a entrada da Palestina nas Nações Unidas, como Estado com estatuto de observador, seria um erro enorme.
     
    - Tendo em conta que o Egipto é actualmente dominado pela irmandade Muçulmana, apoiante do Hamas, pensa que uma invasão de Gaza põe em risco a paz com Israel?
    - O Egipto está numa situação terrível a nível económico e social. O acordo de paz assinado há mais de 30 anos serve Israel mas também o Egipto. Apesar da retórica da Irmandade, eles percebem a importância do acordo e também que a escalada em Gaza não serve os seus interesses. A paz foi mantida durante o período de Mubarak e penso que o será agora também. Estou mesmo convencido de que a actual situação em Gaza é um alerta para Mohammed Mursi [presidente do Egipto]de que tem de colaborar com Israel, falar com Israel, mesmo que isso não lhe agrade, pois isso é fundamental para manter o equilíbrio no Médio Oriente. A escalada em Gaza não serve os interesses do Egipto e, embora a Irmandade não seja tão amigável para Israel como o era o governo anterior, eles percebem a importância de manter o acordo de paz.
     
    - Pensa, então, que os actuáis esforços diplomáticos do Egipto para fazer a paz são sinceros.
    - Penso que sim. É claro que não nos adoram e que partilham muito com o Hamas, mas sabem que o deteriorar da situação não lhes convém. É certo que partilham muito com o Hamas, pois afinal essa organização é parte da Irmandade Muçulmana, mas compreendem que a deterioração da situação causará mais dificuldades e problemas que não interessam ao Egipto.

    - O Hamas tem novas armas que se diz passam pelo Egipto, aceita essa ideia?
    - Sim. Se as armas chegam a Gaza passam por algum lado.  São contrabandeadas e é óbvio que o Irão e a Síria estão a tentar desviar as atenções do que está a passar-se na Síria, onde mais de 40 mil pessoas já foram mortas. Não se houve falar muito disso em Portugal. Aqui critica-se muito Israel por exercer o direito à auto-defesa... O CM foi, aliás, o único jornal que mostrou hoje [quarta-feira] o que os heróis do Hamas fazem, arrastam corpos nas ruas... Mostra-se muito o que sofrem os palestinianos, mas mostra-se pouco o que se sofre em Israel quando está a ser atacado. Há já 12 anos que os ataques com rockets são um facto quotidiano. O Irão é responsável pelo fluxo de mísseis e munições para Gaza. Mas não é disso que eles precisam. O que precisam é de melhorar a sua situação económica e social
     
    - Mas Israel mantém um bloqueio que estrangula a ajuda humanitária...
    - Sim, mantemos o bloqueio exactamente para impedir a chegada de mísseis e de outras armas, nada mais. Nenhum país permitiria que os seus inimigos recebessem armas para destruir as suas casas, para matar os seus cidadãos. Somos um povo amante da paz. Eles, por outro lado, são fanáticos, não são pessoas normais.... Viu como arrastam os cadáveres de traidores e inimigos nas ruas... Só que, infelizmente, eles traficam armas através de túneis. Apesar de tudo, das relações privilegiadas da Irmandade com o Hamas, penso que é também do interesse do Egipto bloquear o tráfico.
     
    - No entanto Israel é acusado de impedir também a chegada de ajuda humanitária a Gaza...
    - Façamos o que fizermos eles vão sempre criticar-nos. O ódio deles é tão patológico que não sabem o que dizem. Na verdade, até mesmo agora, que estão a disparar contra nós, estamos a fornecer ajuda humanitária em grande quantidade. Alguns, em Israel, pensam que devíamos parar, mas nós distinguimos entre a guerra contra os terroristas e a necessidade de ajudar as pessoas que vivem na miséria em Gaza. Veja-se até a maneira como levamos a cabo a operação militar em Gaza: podíamos deter o Hamas com facilidade, mas temos muito cuidado para não atingir civis. E veja o que eles fazem: colocam armas em hospitais, em mesquitas, em escolas etc. Eles conhecem as nossas cautelas e tiram partido delas. É isso que nos distingue: enquanto nós temos cuidado com quem atingimos, eles atiram rockets indiscriminadamente. Querem apenas matar israelitas, sejam eles crianças, estudantes, mulheres.... E as pessoas ignoram isso, aqui e noutros países... Abram os olhos, vejam a verdade. A maioria das pessoas está a favor dos palestinianos porque parecem ser o lado fraco. Mas não são. Nós é que somos pequenos. Estamos cercados por países árabes que querem o fim de Israel e algumas pessoas aqui não vêem isso.
     
    - Diz-se que Netanyahu está a ser condicionado na sua decisão de invadir Gaza pelo calendário eleitoral e também pelo facto de a maioria da população de Israel ser contra a operação terrestre. Como comenta isso?
    - Não há nada mais ridículo do que dizer que Netanyahu age em função das eleições. O facto é que a maioria das pessoas que falam de nós nunca visitou Israel. Até o ministro dos Negócios Estrangeiros português nunca visitou Israel, enquanto todos os seus homólogos da Europa já visitaram Israel dezenas de vezes. A verdade é que não queremos arriscar os nossos soldados. Nós valorizamos a vida. Não celebramos, como eles, a morte dos supostos heróis que vão para o céu onde são recebidos por dezenas de virgens [....]. Mas temos de escutar as pessoas no sul de Israel. Não se importam que operação continue mais duas, três ou quatro semanas, mas prefeririam que puséssemos fim aos bombardeamentos, porque não é possível viver com uma constante barragem de disparos de rockets. Israel é uma sociedade aberta, há pressões em todos os sentidos. Há pessoas a dizer a Netanyahu: ponham fim a isto com uma força terrestre; e há pessoas a dizer para não o fazer. Ora, no meio disso, ele e o seu governo é que têm de tomar as decisões. E sei que o que quer é a paz, mas para isso os ataques têm de parar.
     
    - Pensa que Israel deveria fazer concessões para conseguir a paz desejada?
    - Por que razão faríamos concessões? Quando é que serão eles a fazer concessões? Até quando nos defendemos vêm dizer que a nossa defesa deve ser proporcionada. O que é que isso quer dizer? Que nos defendamos com as mãos atadas?  Eles é que põem condições. Nós só queremos o fim dos ataques...
     
    por Francisco J. Gonçalves
     
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