Dualidade de criterios

Embaixador Ehud Gol ao jornal Público

  •   Dualidade de critérios – os Media e a Diplomacia
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    ​Foi publicado nestes dias um artigo no diário Al-Watan do Kuwait, da autoria de Abdalla Hadlak. Neste artigo entitulado «Double standards and mentioning things wrongly», Hadlak escreve corajosamente que enquanto ao Hamas (e outras organizações terroristas 'satélite') que disparam mísseis Qassam e Grad a partir de Gaza contra aldeias e cidades de Israel onde ferem e matam civis inocentes, os jornais Árabes "chamam erradamente a isto resistência ou actividade jihadista"; à reacção de Israel, que responde atingindo a infraestrutura terrorista, os mesmos jornais apelidam de "agressão" e nunca de "auto-defesa".
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    Este artigo extremamente crítico em relação aos media Árabes podia perfeitamente aplicar-se a alguns dos media em Portugal. A dualidade de critérios está, aliás, muito patente nos próprios títulos dos artigos e nas imagens que são escolhidas para ilustrar o conflito: a miséria e o desespero Palestinianos e, muito raramente, o sofrimento de milhões de Israelitas bombardeados todos os dias.

    Qual é a razão desta abordagem tendenciosa por jornais como o Público na sua descrição do conflito entre Israel e uma organização terrorista? Sim, relembro os leitores que a União Europeia incluiu o Hamas na lista de organizações terroristas, em 2003.


    Será por total ignorância ou desconhecimento do que se passa no Médio Oriente?


    Será uma cegueira patologicamente inexplicável só em relação a Israel?


    Será causada por interesses que nada têm a ver com valores morais e de justiça?

    Será pura ingenuidade fazendo com que retratem Israel como o lado forte e ao outro lado como o fraco e em relação ao qual tem de sentir-se compaixão automaticamente e sem questionar?

     
    Qualquer pessoa minimamente informada sabe que Israel retirou totalmente de Gaza em 2005 na esperança de poder viver em tranquilidade. Quando o Hamas tomou este território à Autoridade Palestiniana em 2007 - pela força - tornou a vida dos habitantes de Gaza um inferno e a dos Israelitas do sul de Israel um pesadelo diário.

    Será que todos os que nos apregoam moralidade dia e noite estariam dispostos a aceitar passivamente que Lisboa fosse sujeita a bombardeamentos contínuos? É tão fácil julgar Israel quando não se está na mesma situação e não se possui (felizmente) referências para se colocar no nosso lugar. O Hamas nunca escondeu a sua intenção de destruir Israel e de eliminar o próprio Governo de Abu Mazen na Cisjordânia.


    Por seu lado, Abu Mazen recusa, há quatro anos, voltar à mesa de negociações com Israel abordando a Assembleia-Geral da ONU para que reconheça automaticamente a Palestina como membro-observador da organização. Os países Árabes, Muçulmanos e Não-Alinhados, cuja grande maioria não é democrática, apoiarão esse pedido. É óbvio que não terão qualquer dificuldade em conseguir maioria mesmo para uma resolução que diga que a Terra é quadrada porque Israel diz que é redonda.


    Abu Mazen prefere uma resolução vaga, fundada numa maioria automática, do que negociações directas e abertas com Israel mesmo sabendo que apenas através destas conseguiremos encontrar soluções para os nossos problemas.

     
    Esperamos que o bloco composto pelas sociedades democráticas ocidentais não apoie este passo unilateral que vai distanciar-nos ainda mais de uma solução e fortalecer os elementos extremistas no mundo muçulmano como o Irão, a Síria e o Hamas. Temos muitas dúvidas de que os mesmos países que pretendem apoiar Abu Mazen nas Nações Unidas vão defendê-lo quando o Hamas tomar a Cisjordânia pela força, como fez em Gaza.

    Já agora, tive de interromper a minha escrita deste artigo para telefonar ao meu filho e saber se está bem e vivo porque um míssil acabou de cair em Rishon Le-Zion, a 100 metros de onde ele trabalha. Pergunto-me quantos de vós tiveram de fazer o mesmo hoje.

     
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