Castelo de Vide comemora 30 anos discurso Mario Soares

Castelo de Vide assinala perdão de Mário Soares

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    Castelo de Vide Castelo de Vide : IL
     
     

    ​​“Em nome de Portugal quero pedir perdão aos judeus das perseguições que foram vítimas na nossa terra”. - Presidente Mário Soares

    Decorridos que estão trinta anos sobre esta data memorável, e num momento em que o contexto da nossa sociedade actual impõe que se reafirmem os valores da tolerância, da fraternidade e da igualdade entre os povos, religiões, culturas e géneros, o Município de Castelo de Vide com a Embaixada de Israel em Portugal assinalaram o referido discurso em Sessão Comemorativa.

     
  • Discurso do Embaixador de Israel Raphael Gamzou

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    ​Celebramos hoje um marco histórico deixado pelo enorme Mário Soares, que corajosamente descreveu o passado da relação entre o povo judeu e Portugal, assumindo uma pesada responsabilidade e pedindo perdão, para depois sedimentar a esperança de um futuro diferente e melhor.
    Com um elevado sentido de dever moral, por um lado, e uma capacidade de intuir os sinais dos tempos, por outro, o Presidente Soares deixou um aviso. E cito:
    «(...) reaparecem de novo inquietantes sintomas de fanatismo religioso e intolerância, com novos apelos a autos de fé até à aniquilação de seres humanos.» Fim de citação.
    Homem de visão, ele percebeu que o fanatismo religioso e o racismo não eram apenas um fenómeno perdido num passado distante, mas uma ameaça real nas nossas sociedades modernas.
    Infelizmente, trinta anos volvidos, enfrentamos na Europa e no mundo, não apenas o reaparecimento, mas até o aumento do anti-semitismo. Às vezes este anti-semitismo camufla-se de crítica a Israel mas, de facto, é motivado por um ódio visceral contra o país na intenção da deslegitimização do seu direito a existir.
    Os media sociais são um mostruário assustador dos sentimentos mais aviltantes expressos na segurança de um quase anonimato. E não só contra os judeus, mas contra outras religiões e outras minorias. Precisamente anteontem testemunhámos um horrível massacre de crentes inocentes em duas mesquitas em Christchurch na Nova Zelândia. Um crime motivado unicamente por sentimentos islamofóbicos.
    Mais à frente, no seu discurso, o estadista cita, por sua vez, Elie Wiesel, cujas palavras ditas no contexto da Shoá mantêm hoje a sua relevância: trata-se de «não deixar as vítimas morrer segunda vez, pelo esquecimento.» Fim de citação.
    É por isso que a cerimónia a que estamos a assistir hoje em Castelo de Vide dá um tão importante contributo para a luta contra o esquecimento dos actos terríveis da Inquisição, das vítimas de tortura e autos-de-fé, bem como da perda de identidade sob a opressão dos ditames do Santo Ofício.
    E porque a todas as vítimas desta tragédia não foi dada hipótese que a oração de Kaddish fosse dita depois da sua morte, eu, como Embaixador do Estado de Israel, em nome de todos os seus cidadãos, judeus ou não, direi hoje o Kaddish.