“O Holocausto aconteceu. Hitler era uma figura demoníaca.” A frase que acabei de citar foi tuitada, há um mês, por Joe Biden. Menos de 80 anos depois da Shoah, ainda com sobreviventes entre nós, o Presidente dos EUA sente que precisa de o afirmar. Desta vez, a causa foi uma entrevista de Kanye West em que o rapper elogia Hitler, negando o Holocausto.
A cada ano assistimos a mais incidentes antissemitas em todo o mundo, sobretudo na Europa e EUA. Porquê? Em minha opinião, há três razões para este fenómeno.
A primeira é de carácter intrínseco. O antissemitismo está de tal forma enraizado em algumas pessoas que é algo muito difícil de mudar.
A segunda prende-se com o uso das redes sociais. Tornaram-se novas ferramentas para espalhar ódio e teorias da conspiração. As fake news são a técnica de eleição para disseminar o antissemitismo e, se alguém não conseguir entender o nexo de causalidade entre um post e um comportamento, isso é um grande problema.
A terceira é o surgimento de um novo tipo de antissemitismo, combinado com antissionismo e anti-Israel. Um fenómeno em que extremistas à esquerda e à direita unem forças para deslegitimar o Estado e o povo judeu.
Que fazer perante este cenário? Creio que há quatro formas de combater o antissemitismo.
A primeira, e mais importante, é a educação — ensinar as gerações vindouras. Em 2019, uma pesquisa da CNN revelou que um em cada 20 europeus nunca ouviu falar do Holocausto. Não sabem o que foi. Se considerarmos as gerações mais novas, a estatística é ainda mais chocante. Trata-se da mesma Europa onde o Holocausto aconteceu. Precisamos, pois, de falar sobre este acontecimento pouco “agradável” e inseri-lo no sistema educativo.
A segunda é a legislativa. Os países têm de aprovar leis que combatam o antissemitismo em todas as suas formas — mais ou menos insidiosas —, de tolerância zero ao racismo. É necessário que mais países e organizações se unam a grupos como a IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto) como forma de patentear o compromisso dos líderes para com este assunto.
A terceira via é a da autorresponsabilidade. O que faço quando vejo uma publicação antissemita no Facebook? Ignoro-a? Denuncio-a? Quantas vezes escolho ignorar comentários ao invés de defender o que está certo? Esta via é da minha, da sua, da nossa responsabilidade. Quem tiver um telemóvel nas mãos tem de estar preparado para tomar uma atitude sempre que estiver face a face com aquela realidade.
Finalmente, é preciso um Israel forte apoiado por países democráticos que pensam de forma semelhante. Há 80 anos o meu povo não tinha Estado. Hoje tem, e isso faz uma enorme diferença na sua segurança. Contudo, este Estado não deve ter de justificar constantemente a sua mera existência.
Continuemos a luta. Pressionemos os nossos líderes a entender este fenómeno e depois a agir. É nosso dever combater o antissemitismo e qualquer outra forma de racismo.
Amanhã pode ser tarde demais.