ARTIGO DE OPINIÃO EMBAIXADOR RAPHAEL GAMZOU

ARTIGO DE OPINIÃO EMBAIXADOR RAPHAEL GAMZOU

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    «A pandemia do coronavírus confrontou-nos com um dos desafios mais duros da nossa geração. No entanto, também nos apresentou a oportunidade (única) de apostar em programas de recuperação económica pós-pandemia que unem forte sustentabilidade a medidas convergentes a uma economia com baixos níveis de emissão de carbono.A pandemia do coronavírus confrontou-nos com um dos desafios mais duros da nossa geração. No entanto, também nos apresentou a oportunidade (única) de apostar em programas de recuperação económica pós-pandemia que unem forte sustentabilidade a medidas convergentes a uma economia com baixos níveis de emissão de carbono.
    O mundo pode usar a saída da covid-19 para acelerar a transição verde e é por isso que a comemoração do Dia da Terra assume, neste ano, um significado ainda mais importante.
    Durante mais de uma década, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente produziu um "Relatório de Lacunas de Emissões" que analisa a disparidade entre onde as emissões de gases de efeito estufa deveriam estar até 2030 e onde realmente se prevê que estejam. O relatório de 2020 constatou que, apesar de uma "ligeira queda" nas emissões de gases, fruto da desaceleração económica da pandemia, o mundo caminha para um aumento da temperatura em mais de três graus neste século, bem acima da meta de 1,5 graus estabelecida no Acordo de Paris. E existe, na verdade, uma ligação direta entre as crises ambientais, as mudanças climáticas e o novo coronavírus. Os especialistas descobriram que o aquecimento global levou ao surgimento de novas doenças zoonóticas infecciosas como a covid-19, o que significa que a atual pandemia está inexoravelmente ligada à terrível situação ambiental do nosso planeta. Facto que deve servir de urgente apelo à ação de todos nós.
    Quando se trata de inovação climática e sustentabilidade, Israel pode servir de exemplo. As condições de aridez e escassez de água no país, combinadas com um espírito empreendedor e de resolução de problemas tornaram o país líder no campo da inovação ambiental. A irrigação gota a gota e o desenvolvimento de cultivos resistentes são tecnologias mundialmente conhecidas que, a bem da verdade, foram originalmente desenvolvidas em Israel. Recordo que, em agosto de 2017, tive a honra de participar na apresentação a António Guterres, na sua primeira visita a Israel como secretário-geral das Nações Unidas, de startups israelitas cujo denominador comum eram soluções inovadoras para questões humanitárias graves decorrentes de alterações climáticas. Uma delas, a Watergen, deixou-nos - a todos - literalmente boquiabertos ao produzir água potável da humidade existente no ar. Algumas destas máquinas já estão a fornecer água em áreas de seca extrema, nomeadamente em Gaza.
    O país também está na vanguarda de uma das últimas tendências mundiais em sustentabilidade: a substituição de proteína animal. Empresas israelitas produziram, com sucesso, uma proteína criada em laboratório que é praticamente indistinguível de carne de alta qualidade, e até já produziram em laboratório carne real a partir de células animais.
    Israel detém ainda o recorde mundial na reutilização de água, reciclando quase 90% das suas águas residuais para uso agrícola, detendo um dos sistemas nacionais de água mais exclusivos do mundo: cerca de 80% da sua água potável é água do mar dessalinizada. Em dezembro de 2019, na reunião entre o primeiro-ministro Netanyahu e o seu homólogo e anfitrião António Costa, em Lisboa, Israel ofereceu a sua vasta experiência em dessalinização, algo que foi muito bem recebido pelo primeiro-ministro português dada a então seca severa no Baixo Alentejo e Algarve.
    Mais de um século de experiência em reflorestamento fez de Israel líder no reflorestamento de áreas semiáridas, uma experiência que se vai valorizar à medida que o plantio de árvores em grande escala se torne cada vez mais prevalente, como método de mitigação contra os efeitos das mudanças climáticas.
    As embaixadas de Israel em todo o mundo comemoram o Dia da Terra anualmente. Assim, como em todos os anos, vão lançar uma campanha global para assinalar esta ocasião, destacando as muitas soluções inovadoras que Israel tem fornecido para problemas globais. Seja abrindo uma horta comunitária em Pequim ou educando para a sustentabilidade no Ruanda, Israel está bem posicionado para fazer uma contribuição única em todo o mundo quando se trata de encontrar programas de recuperação verde da covid-19. A tecnologia de ponta e décadas de experiência prática nasceram dos exigentes desafios ambientais que o país tem enfrentado desde o início da sua condição de Estado, e as soluções que desenvolveu para atender a esses desafios podem agora ser úteis para o resto do mundo.
    Israel está pronto, disposto a partilhar a sua experiência e know-how com todos os países do mundo e Portugal não é exceção.
    Só temos um planeta. Trabalhemos juntos por ele e por nós.»