O público ficou envolvido e chegou a cantar durante a exibição de Jorge Mautner - O Filho do Holocausto, dirigido por Pedro Bial e Heitor D'Alincourt. A produção, que concorre ao Kikito de longa-metragem nacional, foi a última a ser apresentada no 40º Festival de Cinema de Gramado. "O Brasil é um gigante que se fingiu de invisível até hoje", comentou Mautner antes da projeção do filme, na última sexta-feira (17). O multifacetário artista ainda exaltou a diversidade da cultura brasileira: "Jesus de Nazaré e os tambores do candomblé!", disse antes de descer do palco, na companhia de Heitor - Bial não esteve presente devido às gravações do programa Na Moral, da TV Globo.
Filho de mãe iugoslava católica e pai austríaco judeu, Mautner chegou ao Brasil ainda na barriga da matriarca, quando a família fugia do holocausto nazista durante a 2ª Guerra Mundial. Escritor, músico, compositor e fomentador cultural, na década de 1970 ficou próximo de Caetano Veloso e Gilberto Gil em uma passagem por Londres - nesta época, dirigiu e atuou com Caetano e Gil em O Demiurgo, filme que acabou censurado.
O documentário apresentado em Gramado é marcado por materiais de arquivo de ótima qualidade - inclusive cenas recuperadas de O Demiurgo -, disponibilizados pela Cinemateca Brasileira e pelo Centro de Documentação da TV Globo (CEDOC). A trilha sonora é composta por 36 canções executadas com maestria por Mautner e seu parceiro de longa data, Nelson Jacobina, além da competente banda formada por Domenico Lancelotti, Pedro Sá, Kassin, e Berna. Há também a participação de Caetano e Gil.
"A carreira do Jorge foi cheia de altos e baixos. Queríamos transformar isso em uma coisa palatável, retratando ele como um artista pop, como sempre foi a proposta dele. Optamos por uma narrativa linear, que no final das contas virou quase um filme de ficção. Tivemos acesso a um material, senão inédito, que foi exibido praticamente uma única vez. E isso foi muito bom para o filme", comentou Heitor.
A narrativa tem como fio condutor o livro O Filho do Holocausto, obra de memórias escrita por Mautner. Segundo Heitor, a trajetória do artista é muito longa e rica, tanto que "daria para fazer uns dez filmes sobre ele", brincou o diretor. Além dos divertidos resgates de arquivo, o plano do presente é permeado por diferentes intervenções: Mautner declamando sua obra, conversas descontraídas com família e amigos, depoimentos e as esquetes musicais enérgicas e ousadas, que referenciam o performático estilo do artista.
Fonte: Terra