São Paulo - Uma das principais representantes mundiais do segmento de monitoramento veicular, a israelense Ituran acelera suas estratégias de crescimento no Brasil. A companhia de equipamentos, softwares e serviços de rastreamento planeja investir R$ 100 milhões em sua operação brasileira, num prazo de cinco anos.
O plano da Ituran surge num momento de impasse para o setor no Brasil. Publicada em 2007, a Resolução 245 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) — que estabelece a obrigatoriedade da instalação de rastreadores antifurto em veículos vendidos no país — teve sua entrada em vigor adiada mais uma vez no início do mês. O novo prazo para que isso aconteça é junho de 2016. O que poderia ser um entrave para limitar o interesse da Ituran, no entanto, é visto como a renovação das oportunidades para a empresa no mercado local.
“A princípio, a resolução traria um impacto significativo, especialmente no varejo. Em um ano, ela tinha o potencial de dobrar o volume atual de 2 milhões de veículos rastreados no país. Mas, com os constantes adiamentos, ela perdeu velocidade e muito dos fatores que estavam vinculados à nossa indústria ficaram estacionados”, diz Yaron Littan, presidente da Ituran no Brasil. “Eu acredito agora que ela não vai vingar. Mas, isso é positivo, porque sem uma padronização regulamentada, penso que muitas montadoras vão aproveitar a oportunidade para lançar seus próprios projetos”, observa.
Para Littan, os requisitos estipulados na resolução eram um dos principais empecilhos. Além da padronização, um dos agravantes, diz ele, era o fato de que as especificações de equipamentos e softwares ficaram obsoletas durante esse intervalo de sete anos. “Quando todas as empresas usam as mesmas soluções, qual é a vantagem competitiva?”, questiona.
Sob a nova perspectiva, uma das estratégias da Ituran no segmento de varejo é justamente buscar projetos específicos em parceria com as montadoras. A empresa tem ainda um acordo em vigor com a General Motors no país, mas que está vinculado à resolução.
Ainda no âmbito do varejo, outro plano da Ituran é expandir o seu carro-chefe nesse mercado: o Ituran com Seguro. Lançada em 2011, em parceria com a Mapfre e a BNP Paribas Cardiff e com um valor mensal de R$ 79, a oferta é um seguro para roubo e furto de veículos para quem possui rastreadores da marca. No caso de o carro não ser localizado e recuperado, o seguro reembolsa o cliente em 100% pelo valor do veículo na Tabela FIPE. “Crescemos muito com essa oferta em São Paulo e no Rio de Janeiro. Queremos agora levar esse serviço para outras praças e incluir mais categorias, como motos e caminhões”, diz.
Parte dos investimentos será destinada aos outros dois segmentos de atuação da Ituran: as seguradoras e o mercado corporativo. Essa última linha envolve o setor de gestão de frotas. Nessas duas vertentes, uma das principais estratégias é a oferta de tecnologias mais avançadas na comparação com o que é adotado hoje nesses mercados. O portfólio inclui aplicações para evitar fraudes de seguro e soluções que permitem uma empresa reduzir custos — em média de 20% a 30% — de transporte e logística.
Entre outras funções, as tecnologias são capazes de não apenas monitorar a localização de um veículo, mas também de coletar dados como o consumo de combustível e o desempenho do condutor. Como estão integradas aos computadores de bordo dos veículos, as soluções também funcionam como uma espécie de caixa preta e são capazes de reconstruir o passo a passo de um acidente. Na ponta das montadoras, uma das ofertas são os sistemas que coletam e integram dados de concessionárias para que as montadoras possam identificar problemas recorrentes e reduzir, por exemplo, o número de recalls. “O investimento em desenvolvimento local de tecnologia é uma das bases do nosso plano para os próximos anos”, afirma.
A base atual de 300 mil veículos monitorados pela Ituran no Brasil está dividida quase que igualmente entre o varejo, as seguradoras e o mercado de gestão de frotas. Em termos de receitas, porém, Littan diz que o segmento de gestão de frotas ainda está um pouco abaixo das outras duas linhas. “Mas esse é um setor que está ficando cada vez mais interessante, pois as margens e os tíquetes médios são bem mais elevados, especialmente com esses projetos mais inovadores”, afirma.
Como um último pilar, Littan diz que a Ituran voltou a avaliar um projeto anterior à Resolução 245: a fabricação local. “Estamos próximos de alcançar uma massa crítica que justifique esse investimento. Com o novo cenário, temos um caminho mais definido para seguir. Estamos negociando projetos com diversas montadoras. Se um deles vingar, com certeza vamos começar a produzir no país”, diz. (fonte: Brasil Econômico)