EM PROL DA PAZ

EM PROL DA PAZ

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    Daniela Kresch - Exclusivo para a RUA JUDAICA
     
    TEL AVIV. Uma das mais festejadas vozes do “World Music”, a cantora e compositora israelense Achinoam Nini, conhecida internacionalmente como Noa, se apresenta nas próximas semanas na América Latina, começando pelo Brasil. O show dela hoje no Rio, em homenagem ao Yom Haatzmaut (Dia da Independência de Israel), foi um convite da Federação Israelita do Rio e se insere nas comemorações dos 450 anos da cidade. Depois do Brasil, ela segue para Chile, Argentina e México. Antes de embarcar para a turnê, Noa deu a entrevista abaixo com exclusividade para a Rua Judaica. No Brasil, além da apresentação do dia 22 de abril no Teatro Oi Casagrande, ela se apresenta dia 26 em São Paulo (Comunidade Shalom).
     
    * Noa, que músicas você planeja tocar nos shows dessa turnê pela América Latina?
    Depende da apresentação. As do Rio e de São Paulo têm como público-alvo é a comunidade judaica. Então vou cantar mais músicas em hebraico e também em inglês do meu novo disco “Love Medicine”, com o qual tenho me apresentado em todo o mundo. O que é interessante é que uma das músicas do novo disco é do Gilberto Gil, “A Paz”, que traduzi para hebraico. Vou cantar também uma parte em português, o que vai ser legal. Vou começar todos os shows com essa música, e não só no Brasil. Adoro essa canção. Acho que sua mensagem é incrível. Mesmo quem não entende a letra, entende a sensação e a palavra “shalom”. Na Argentina, no Chile e no México eu vou cantar também em espanhol. No último CD tenho um dueto com Joaquin Sabina (cantor da Espanha) e tenho um bom repertório em espanhol.
     
    * Vai pretende cantar em italiano também?
    Não sei se tem a ver cantar no Brasil em italiano. Não canto no Brasil também em espanhol, que não é a língua local. No Brasil, os shows são ligados ao Yom Haatzmaut, então prefiro cantar mais em hebraico para demonstrar a minha “israelidade”, que é complexa, porque sou uma pessoa complexa, mas com certeza é a minha “israelidade”. Quero mostrar a profundidade, o bom, o bonito e a riqueza que há na cultura israelense.
     
    * Nesse novo CD também há outras músicas inspiradas em cantores brasileiros como Milton Nascimento e João Bosco...
    Sim, fui muito influenciada tanto por Milton Nascimento quanto por João Bosco. Com João Bosco eu entrei em contato e nos apresentamos juntos no Festival de Jazz de Eilat. Foi, para mim, um acontecimento muito emocionante porque eu sou fã desde a juventude. Estava marcado para encontrá-lo agora no Brasil e fazer uma jam session, esperei muito por isso, mas no final das contas ele tinha shows longe do Rio e não vai acontecer, o que para mim é uma grande decepção. Quanto ao Milton Nascimento, também com ele eu fiquei em contato por muito tempo. Escrevi uma música para cada um deles. Elas não foram gravadas até agora, e pode ser que não sejam nunca, mais eu gostei tanto da inspiração dessas figuras que decidi incluí-las no meu mais recente CD, que é repleto de inspiração de pessoas específicas.
     
    * Há quatro músicas sobre o Papa João Paulo II, certo?
    Sim, tem quatro canções que escrevi, originalmente, para um musical sobre a vida de João Paulo II. Pediram que eu escrevesse a música, que é algo incrível porque sou judia e israelense. Mas contei para ele várias vezes e ele gostava muito de mim e eu o considerava muito como um líder incrível. Foi muito interessante ler a história de sua vida e escrever essas canções. O projeto no final das contas não aconteceu.
     
    * Por que?
    Por alguma questão de direitos autorais.... Mas foi muito interessante me inserir no mundo dele e encontrar alguma ligação comigo. Foi um trabalho incrível. Tem uma música chamada “Little star”, sobre o Holocausto. Descobri que João Paulo II também foi um sobrevivente do Holocausto, de um campo de concentração nazista, e fora isso ele e sua família salvaram judeus. Ele teve muito envolvimento com o que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial. Foi estranho para mim, porque cresci com toda essa questão do Holocausto, que fui aluna de yeshivá a infância e adolescência em Nova York, li um sem-número de livros sobre o Holocausto, vi inúmeros filmes, mas nunca pensei em escrever uma música sobre isso. Talvez essa seja a música da qual mais me orgulho em todo o disco.
     
    * Você se apresentou para outros Papas?
    Sim, me apresentei para o Ratzinger (Papa Bento XVI) e, no começo de julho, me apresento para o Papa Francisco. Eu o tenho em alta estima apesar de não ser religiosa e ele ser um líder religioso. Mas gosto muito do que ele diz, de suas mensagens, de sua ousadia.
     
    * Qual a mensagem que você quer passar nesse Dia da Independência?
    É importante para mim dizer que eu festejo a independência de Israel, sou sionista, amo muito, muito o meu país. Mas, ao mesmo tempo, acredito que o futuro de Israel e os festejos sobre sua independência só podem ser completos com um trabalho em prol da paz para que também o povo nosso vizinho possa festejar como nós. Por um lado, amo o meu país, o apoio e me emociono com ele, mas por outro eu invisto muito tempo e esforço em trabalhos em prol da paz. Acredito que isso é, hoje em dia, o sionismo no nível mais alto. A frase mais importante que tirei da minha educação religiosa foi: “Ame ao próximo como a si mesmo”. Essa frase é o meu mantra.
     
    * Como você reage a manifestações anti-Israel em lugares onde você se apresenta?
    Fico indignada com a hipocrisia com que muitos tratam Israel. As pessoas gostam de ver as coisas em preto ou branco, mas isso não existe, aos meus olhos. Portanto, decidir que Israel é o “inimigo número 1” é um exagero tão selvagem que me impressiona. Muitas vezes, me vejo defendendo o Estado de Israel porque eu amo e acredito no Estado de Israel. Não acredito no governo, mas amo muito o meu país. Há uma diferença muito grande entre as duas coisas. Isso também é algo que eu gostaria de passar para a comunidade judaica. Muitas vezes, a comunidade se coloca em prol do governo independentemente do que ele faz, mas isso é errado, ao meu ver. É preciso apoiar o país, mas se há um governo assim ou assado que não atua como achamos, devemos nos colocar contra isso. Há opiniões diferentes dentro das comuni dades em todo mundo. Eu apoio e defendo o Estado de Israel e seu direito de existir, em sua independência. Mas junto a isso, trabalho sem parar em prol da paz.
    (Por Daniela Kresch - Rua Judaica)