A psicóloga brasileira Vivian Fogel ainda não sabe como vai ser e o que vai sentir ao passar pela próxima vez pela avenida de Jerusalém onde houve a explosão de um ônibus na segunda-feira passada, dia 18. É o caminho que ela usa para ir todos os dias ao trabalho.
Vivian estava em um dos ônibus que foram alvo do atentado que deixou 21 feridos, e desde então não passou pela Derech Hebron, uma das avenidas mais movimentadas na região sudeste de Jerusalém e bem próxima à Cisjordânia, na entrada de Belém. A ação foi reivindicada pelo Hamas, grupo radical que controla a Faixa de Gaza.
— Eu estava na parte da frente do ônibus, e o estouro mais forte começou pelos lados e pela parte de trás. Ficamos tomados de fumaça e chamas muito altas bem perto da gente. Os meus ferimentos seriam ainda mais graves se eu estivesse em qualquer outro lugar do veículo — explica Vivian ao GLOBO, ainda muito assustada.
A psicóloga teve os cabelos queimados na explosão e foi atingida na cabeça por algum um equipamento que se desprendeu com o estouro. Vivian está de licença do trabalho, vai ficar afastada até a próxima semana e desabafa sobre o choque ao estar no local e sobre tudo o que viu.
— Levei um tempo para conseguir falar sobre o ataque. Apesar do que lemos sobre os conflitos, nunca imaginei que fosse acontecer comigo. Logo depois da explosão, as equipes médicas chegaram e nos levaram para o hospital. Eu estava com o corpo todo ensanguentado, com manchas dos meus ferimentos e até dos outros — detalha a brasileira, que além da pancada na cabeça, está com ferimentos e dores nos braços e costas.
TEMOR DE ANDAR PELA CIDADE
Nascida em São Paulo, Vivian mora em Jerusalém há quase três anos. Apesar do susto, ela prefere continuar em Jerusalém a voltar ao Brasil.
— Vou tentar usar menos o transporte público. Acho que ataques como este podem acontecer em qualquer lugar, mas geralmente em áreas que têm mais pessoas, como ônibus, estações e praças. Vou me esforçar para tirar a minha carteira de motorista. Parece que estamos falando de um fenômeno global, não sendo algo só de Israel — afirma.
O atentado é o primeiro contra um ônibus desde a revolta palestina entre 2000 e 2005. Durante a guerra na Faixa de Gaza, em 2012, uma bomba foi deixada em um ônibus em Tel Aviv, mas não houve mortes.
Desde outubro do ano passado, a violência matou 28 israelenses e quase 200 palestinos, na maioria, acusados por Israel de atropelamentos propositais e de ataques com facas.
O ataque fez as forças de segurança elevarem o nível de alerta em Jerusalém. Policiais estão posicionados em diversos pontos da Cidade Velha, como na ViaCrucis, Portão de Damasco e Portão de Jafa. Há mais controles para o Muro das Lamentações, nas entradas para rodoviárias, estações de trem e shoppings.
O Ministério de Relações Exteriores de países como a Alemanha alertou os cidadãos a não usarem transporte público em Jerusalém. O Itamaraty está acompanhando de perto o caso de Vivian, porém, ainda não se posicionou sobre o uso de ônibus e trens em Israel.
O autor do atentado ainda foi levado ao hospital, mas morreu devido à gravidade dos ferimentos. Segundo o Ministério da Saúde palestino, ele era Abdel Hamid AbuSorur, de 19 anos, do campo de refugiados de Aida em Belém, na Cisjordânia.