O Legado de Peres

O Legado de Peres

  •   O Legado de Peres
  • Foto: GPO - Moshe Milner
     
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    Ele nunca deixou de acreditar que a sua mais poderosa arma era concretizar a paz com os palestinos e com os demais vizinhos árabes
       
    POR OSIAS WURMAN 
    11/10/2016 

    O povo de Israel acabou de perder Shimon Peres, seu último e importante líder histórico da fundação do Estado judeu.

    Peres chegou à Terra de Sião com sua família, em 1932, durante o Mandato Britânico da Palestina, vindo da Polônia, sua terra natal. Na década de 30, os judeus já sentiam com muita intensidade o clima de discriminação e antissemitismo que assolava a Polônia.

    Desde os primórdios do moderno Estado de Israel, o jovem Peres, de 24 anos, era fascinado pela vida política na nova nação que materializava o sonho milenar sionista da volta do povo judeu às suas origens bíblicas.

    Engajado nos ideais socialistas que nortearam os pioneiros da nação judaica, Peres participou ativamente do esforço de seu povo, dedicando-se a transformar “um árido deserto num florido jardim”. Assim se referia ao Estado de Israel em suas primeiras décadas após a declaração da Independência. A verdadeira “terra do leite e do mel”.

    Mas, desde 1948, Israel sofreu inúmeras tentativas de destruição por seus vizinhos, inconformados com a decisão das Nações Unidas — Partilha da Palestina — aprovada por maioria de dois terços, em novembro de 1947.

    Coube a Peres estruturar o poder de dissuasão do jovem e pequeno Estado, cercado de inimigos por todos os lados. Vale lembrar que já nos anos 50, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser costumava bradar pelo rádio a intenção de “invadir Israel e afogar os judeus no Mar Mediterrâneo”.

    Alguns creditam a Peres o poder militar do Exército de Defesa de Israel, além da arquitetura e construção do poder nuclear do país, fato nunca confirmado oficialmente.

    Um dos marcantes pronunciamentos após a morte de Peres, ocorrida em 28 de setembro último, foi do presidente da Alemanha, Joachim Gauck. Em sua mensagem, Gauck agradeceu a Peres por ter estreitado as relações de Israel com seu país, mesmo após o inesquecível Holocausto judaico, provocado por um genocida alemão.

    Desde os primórdios de Israel, a Alemanha vem tendo papel fundamental no fornecimento de material bélico usado na defesa nacional, sendo que atualmente quatro submarinos Dolphin, de fabricação alemã, garantem a segurança costeira do Estado judeu.

    Peres preocupava-se em construir um poderio que garantisse a sobrevivência e a soberania de um jovem Estado, em um ambiente tão hostil. Mas nunca deixou de acreditar que a sua mais poderosa arma era concretizar a paz com os palestinos e com os demais vizinhos árabes.

    Criticado por muitos israelenses que o achavam iludido por ser um fanático defensor da paz com os palestinos, Peres respondia que “com a família e os vizinhos não temos outra solução senão a de viver em paz”.

    Peres recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994 e gostava de repetir que, como pacifista, ele era um inegociável otimista. E acrescentava: “Na vida, tanto morrem os otimistas como os pessimistas. A diferença é que os otimistas vivem melhor a vida.”


    Em 2009, recebi de Shimon Peres a nomeação como cônsul honorário de Israel, a maior homenagem que um judeu não israelense pode receber. Junto veio um legado de otimismo pacifista.

    Shalom, salam, paz!

    Osias Wurman é cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro