Entrevista com Daniel Hershkowitz

Entrevista-Daniel Hershkowitz

  •   Desejo de cooperação
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    Em visita a Brasília, o ministro da Ciência e Tecnologia de Israel afirma que o Brasil e seu país podem firmar parcerias em áreas como as de energia, biotecnologia e da indústria espacial, e anuncia a participação no programa Ciência sem Fronteiras.
     
    Por Max Milliano Melo
     
    Daniel Hershkowitz, matemático de 59 anos, é membro do Knesset, o Parlamento de Israel, e ministro da Ciência e Tecnologia do país. O pesquisador esteve no Brasil esta semana para ampliar os acordos de cooperação entre os dois países no setor, considerado estratégico por ambas as nações.
    Em entrevista ao Correio, o ministro israelense assegurou a entrada de Israel no programa Ciência sem Fronteiras, que viabiliza a ida de estudantes brasileiros para universidades do exterior, e explicou por que vê o Brasil como uma das principais novas potências científicas no mundo. "É um país que está definitivamente desenvolvendo seu potencial", afirmou.
     
    Ele também enumerou uma série de áreas em que as duas nações podem se tornar parceiras, que vão desde a biotecnologia às ciências da vida, passando pela tecnologia espacial. "Não queremos compartilhar o conhecimento que cada um de nós desenvolveu separadamente, mas criar mais conhecimento juntos. Queremos colocar equipes dos dois lados para se ajudarem."
     
    Nascido em Haifa, no norte do país, filho de sobreviventes do Holocausto, Hershkowitz possui mestrado e doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), onde é professor desde 1985. Casado com Shimona, diretora de uma escola de ensino médio de educação especial, têm cinco filhos e oito netos. Ele serviu como major das Forças de Defesa de Israel e também é rabino, sendo responsável por 23 sinagogas em sua cidade natal.
       
     
      
    Brasil e Israel são dois países geograficamente muito distantes. Como a ciência poderia aproximá-los? Brasil e Israel são bastante diferentes, não apenas do ponto de vista de localização, mas também no tamanho. O Brasil é um país imenso, com quase 200 milhões de pessoas, enquanto Israel é pequeno e tem apenas 7 milhões de habitantes. O Brasil está ganhando poder em ciência e tecnologia, percebe-se um desejo de promover o crescimento da área. E Israel é uma das maiores potências na área e, provavelmente, o maior exportador mundial de ciência e tecnologia. Então, é natural que Israel, como uma potência em C&T, e o Brasil, uma potência em crescimento, destinada a ser uma das maiores do mundo, tenham lacunas de interesse comum. É natural que os dois encontrem áreas de cooperação.
     
    Como um país pequeno como Israel se tornou uma potência científica? Que lições o Brasil pode aprender? Acho que foi o capital humano. A criatividade e a originalidade do pensamento de nossos cientistas. A habilidade de pensar "fora da caixa" é o que faz a diferença e provoca grandes mudanças. Israel é um país que, infelizmente, tem passado por tragédias e, como consequência disso e dos nossos poucos recursos naturais, nós temos que encontrar atalhos, soluções e alternativas.
     
    Quais áreas o senhor consideraria mais estratégicas para uma colaboração com o Brasil? Em minha visita ao Brasil, identificamos algumas áreas de interesse mais próximo. Para citar algumas, diria ciências da vida, em que há uma pesquisa bastante interessante; biotecnologia, uma área crítica nas pesquisas; além de teorias da informação, cibernética, programas espaciais, energias alternativas e desenvolvimento de equipamentos médicos. Há muitas áreas de cooperação.
     
    De que forma os dois países podem cooperar na área espacial? Essa foi uma questão que discuti aqui no Brasil. Acho que ambos temoos interesses em cooperar no desenvolvimento de uma indústria espacial civil, desmilitarizada. Mas, o mais importante é que não queremos compartilhar o conhecimento que cada um de nós desenvolveu separadamente, mas criar mais conhecimento juntos. Queremos colocar equipes dos dois lados para se ajudarem.
     
    E em energia? Bem, o Brasil é um dos países líderes do mundo no uso energias alternativas. Israel também. Somos, por exemplo, um dos líderes mundiais em pesquisas sobre energia solar. Podemos unir essa vocação dos dois países, pois não se trata apenas de lidar com a poluição e com a degradação ambiental, mas lembrar que o petróleo é um recurso limitado, que um dia vai acabar. Essa é uma área de interesse comum.
     
    No ano passado, a população mundial alcançou a marca de 7 bilhões. Tanto Brasil quanto Israel mantêm um forte desenvolvimento em tecnologias agrícolas. Como o aumento da cooperação entre as duas nações poderia ajudar a resolver o problema de alimentação em um mundo tão populoso? Há várias áreas em que podemos nos complementar. O Brasil é um grande produtor de leite, por exemplo, enquanto Israel mantém a maior produtividade de leito por vaca, cerca do dobro da média mundial. Assim, poderíamos produzir mais leite, aumentando a produção por vaca no Brasil. A falta de água é um problema que o Brasil não tem, mas Israel sim. Apesar disso, o sistema brasileiro poderia se tornar mais eficiente.
     
    Antes de se tornar ministro, o senhor teve uma longa carreira como cientista. Quando era pesquisador, que imagem o senhor tinha do Brasil e da ciência feita aqui? A imagem era de um país enorme, com pessoas interessantes e amigáveis. E, principalmente, com grande potencial.
     
    E agora? De um país que está definitivamente desenvolvendo seu potencial. Não tenho dúvidas de que Israel e Brasil conseguirão firmar fortes laços de cooperação em ciência e tecnologia. Tenho certeza de que desenvolveremos vários projetos em conjunto, e promoveremos grandes avanços.
     
    O Brasil está promovendo um grande programa de internacionalização de sua ciência, o Brasil sem Fronteiras. Estudantes brasileiros podem ter em Israel um destino para estudos? Anuncio em primeira mão que hoje nós alcançamos um consenso sobre os termos do acordo para a entrada de Israel no programa. O Ministério da Educação do Brasil me passou o rascunho do acordo, que levarei para os ministérios do meu país. Era sobre isso que eu estava conversando há alguns minutos( antes da entrevista, Daniel Hershkowitz se encontrou com o secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, Luiz Antônio Rodrigues Elias). Apesar de ser necessário discutir o assunto com nosso Ministérios da Educação e com nosso Conselho de Educação Superior, o processo será rápido. A única questão que precisará ser trabalhada é a da linguagem. Em Israel, temos dois idiomas (inglês e hebraico), e os alunos precisarão aprender hebraico para estudar em algumas instituições. Contudo, muitas de nossas universidades mantêm programas em inglês, e isso tornará a coisa mais fácil. No segundo semestre do ano que vem, no máximo no início do outro, os primeiros alunos brasileiros poderão estudar em Israel.
     
    Como cientista, que mensagem o senhor deixaria para estudantes brasileiros que querem seguir carreira e estão em busca de oportunidades no Brasil, em Israel ou em outros lugares? Eu me acho um sortudo por ter me tornado cientista. Nessa carreira, eu me dediquei ao meu maior hobby, e as pessoas me pagaram por isso. A principal vantagem de ser cientista é poder descobrir as respostas de perguntas que lhe interessam e que nunca foram respondidas anteriormente. Em outras áreas, você vai trabalhar e tem que fazer aquilo que seu chefe espera de você. Em ciência, não. Você pode pesquisar aquilo que lhe interessa. Ser cientista é um grande privilégio, as respostas servem não apenas a você, mas a toda a humanidade. Claro que, às vezes, há frustração, mas a ciência é a carreira mais bonita que eu posso imaginar.

     

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